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FÓRUM 1: TRADUÇÃO E DRAMATURGIA
Mediação: Tereza Virgínia e Anna Palma
Data e hora: 9 de novembro, quinta-feira, das 13h30 às 15h30
Local: Auditório A104 - CAD2
Pela tese de Grésillon, a tese da interdependência entre texto e cena, podemos afirmar acerca da urgência da tradução de fronteira, aquela que contempla a língua e a ação, que ela é como o próprio texto de teatro: tem sua gênese sempre ligada, de antemão, concreta e virtualmente, a configurações de encenação[1]. Assim, nessa perspectiva e desde as primeiras fases da tradução – já na escolha do léxico a ser utilizado, por exemplo, é possível prever a encenação como parte integrante no processo. Assim,
Escrever, traduzir, encenar são coisas de um pensamento único, com base na própria atividade de tradução, ou seja, a competência, a necessidade e a alegria de inventar, sem trégua, equivalentes possíveis: dentro da própria língua e entre línguas, no corpo e entre os corpos, entre as idades, entre um e outro sexo.[2]
Pensemos sobre o exercício de tradução e sobre teatro coletivo[3]. Com base nos estudos de Grésillon, podemos pensar no trabalho de tradução em equipe. Segundo Grésillon, Beckett, sempre dirigia e reescrevia suas peças depois das apresentações e das críticas; parcerias e intervenções nos textos teatrais são testemunhadas também nos escritos de Goethe, quando diretor no teatro de Weimer, que interfere nos textos de Schiller;[4] esse é igualmente o caso da parceria de Giraudoux e Jouvet segundo os arquivos de “Artes do Espetáculo da Biblioteca Nacional, depositados atualmente na Biblioteca do Arsenal,” que “testemunham uma verdadeira escritura a duas mãos”; “[c]olaboração do mesmo tipo existiu igualmente entre Jean Genet e Roger Blin” e com Paul Claudel e Jean-Louis Barrault. [5]Grésillon, depois de arrolar muitas outras parcerias, conclui que esses “poucos exemplos são suficientes para mostrar a que ponto a escritura teatral depara-se forçosamente com regras e critérios que não pertencem ao código escrito, mas àquele da encenação. A melhor mediação, em se tratando de escrever, aperfeiçoar e refazer um texto de teatro é a que passa por uma escritura a duas mãos, a do autor e a do diretor – a não ser que as duas funções se confundam...”[6]
No caso de uma escrita solo, o constante vai-vém entre o texto que se está escrevendo e representação cênica, como em Brecht, constituiu um movimento sem fim e paradigmático, a saber, o da maturação da peça Galileu. Galileu levou trinta anos no processo de estabelecimento pelo autor; as várias versões mostram “sedimentações sucessivas entre elaborações de linguagem e experiências cênicas”[7]
E é assim, os textos teatrais progridem, “graças a um diálogo permanente entre a letra e a imagem, o verbal e o cênico, mas também entre a fábula e a vida”, afinal, cremos ser correto o que Brecht afirma apud Grésillon: “Para que um drama seja bom, basta que seja executável em grande número de estilos e, portanto, modificável.”[8]
[1] GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 270.
[2] VITEZ, Antoine. “Postface”. In: Théâtredesidées. Paris: Gallimard, 1991, p. 586: “Écrire, traduire, pourenscenerelèvent d’une penséeunique, fondéesurl’activitémême de traduire, c’est-à-diresurlacapacité, lanécessité et lajoie d’inventersanstrèvedeséquivalentspossibles: dansla langue et entre les langues, danslescorps et entre lescorps, entre lesâges, entre unsexe et l’autre.”
[3] GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 272: Esses prolongamentos da gênese para além do limite geralmente traçado levantam um problema de grande importância: se é que realmente o ato de escrever prossegue graças aos diálogos do autor com o diretor e/ou os atores; se, portanto, o autor negocia o teor de seu texto com tais mediadores, passadores entre o mundo do texto e o mundo da cena, será que se deve decidir pela existência de uma especificidade genética dos textos de teatro? Ou, então, teríamos aí simplesmente o aspecto mais visível de uma lei geral, segundo a qual nenhuma escritura, teatral ou não, pode ser totalmente uma escritura privada? Nesse último caso, será que podemos continuar mantendo a noção de gênese nos limites da criação estritamente individual? Não será que sempre, a gênese, sobretudo em suas elaborações últimas, é o resultado de um diálogo entre o privado (determinado desejo de escritura) e o público (tal pressão social)?”.
[4] Através dos comentários de Gréssillon, sabe-se que em relação à peça Wattensteinde Schiller, o manuscrito do prólogo, redescoberto há uns vinte anos foi corrigido por Goethe. O texto do prólogo é “testemunho direto da maneira pela qual o diretor do teatro de Weimar, reescrevia, com o consentimento de Schiller, textos de teatro deste.” GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 275
[5] Idem, ibidem.
[6] GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 276.
[7] GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 278.
[8] GRÉSILLON. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”, p. 279.
GRÉSILLON, Almuth. “Nos limites da Gênese: da escritura do texto de teatro à encenação”. In: Tradução de Jean Briant. Estudos Avançados. Vol. 9, nº 23. 1995, p. 269-285.